terça-feira, 10 de setembro de 2013

Governo não consegue atrair estudantes para a carreira de professor

A população brasileira nunca mais terá tantos jovens quanto agora. O alerta dado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no mês passado lembrou que o país deveria lançar mão dos jovens de hoje para construir a riqueza do Brasil de amanhã. O primeiro passo, a melhora da qualidade da educação, entretanto, está em marcha lenta. Há um ano, quando foi divulgado o resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que revelou a estagnação do ensino médio, o governo federal anunciou uma reforma que, até agora, praticamente não saiu do papel. No bloco de propostas do Ministério da Educação (MEC) e do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Cosned), estava incluída a renovação do currículo e a mudança dos conteúdos para torná-los mais atrativos aos adolescentes. Os órgãos dizem que trabalham em um novo desenho para o ensino médio e que há uma série de ações em curso. Especialistas pedem urgência nessa modernização e mais incentivos aos estudantes que queiram investir na carreira de professor.

Autor de um artigo sobre a reforma feita na década de 1990, o professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) João dos Reis Silva Júnior destaca que a principal mudança tem que ser feita na formação dos docentes. Ele cita um estudo da Fundação Carlos Chagas (FCC) que aponta que os alunos valorizam a profissão, mas buscam outra carreira por causa do baixo prestígio e da remuneração pouco atraente. "Além de não querer ser professor, o estudante, quando chega no ensino superior, não consegue acompanhar o ritmo, por melhor que seja o curso de formação de docentes. E não consegue porque a formação escolar foi ruim. O índice de evasão na licenciatura é elevadíssimo”, avalia. E quem se forma, segundo ele, não vai dar aulas no ensino público. "Por isso, pode reformar o ensino médio o quanto quiser. Se não melhorar o ensino superior, não resolve”, diz o acadêmico, pessimista.

Outra preocupação de Reis Silva é com o modelo educacional, cada vez mais alinhado com o mercado de trabalho. "A prioridade na pesquisa aplicada em detrimento da ciência humana e a demanda por profissionais do setor produtivo fazem com que as universidades não sejam boas”, avalia. Segundo o professor, um exemplo é o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). "Em vez de investir no ensino público de qualidade, o governo dá bolsa para o aluno cursar em um instituto privado”, analisa. O professor, entretanto, destaca que o processo de renovação dessa fase do ensino é constante. "No governo Fernando Henrique, vivemos outro período de mudanças, que foi da educação infantil até a pós-graduação”, acrescenta. Segundo ele, mesmo com dificuldades, a necessidade de atualização continua recorrente.

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(Editor: Otávio Araújo)

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