terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Família e escola mais próximas

Os processos de aprendizagem envolvem múltiplos fatores para que sejam efetivos. O desenvolvimento de estratégias para aproximação entre famílias e escola é um desses desafios. Tema de diversos estudos e pesquisas, esta relação já foi comprovada como contribuição fundamental para o sucesso na aprendizagem.
Um estudo realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2011, mostrou que a participação ativa dos pais na formação dos filhos nos primeiros anos escolares refletiu positivamente em seu desempenho no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, o Pisa, na edição de 2009, quando foi avaliado o domínio de leitura pelos alunos.
O estudo apontou também que, quando os pais exercem com os filhos atividades como leitura, diálogo sobre episódios do cotidiano ou sobre um tema abordado em um programa de TV, existe a probabilidade de melhor desempenho desses estudantes.
A doutora em psicologia da educação e presidente dos conselhos do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) e da Fundação Tide Setubal, Maria Alice Setubal, conta como potencializar ainda mais esta relação: "os educadores têm que compreender os contextos familiares e suas relações com a escola para, assim, saber como melhor se relacionar com as famílias no exercício de sua tarefa educativa”.
Segundo ela, a escola deve adotar estratégias diferenciadas que busquem ampliar o contato das crianças com o universo letrado. "Se apoiadas (as escolas) por uma política educacional abrangente e sistêmica, elas exercem a responsabilidade de acolher e orientar as famílias na luta pela escolarização de seus filhos”, complementou.
Uma pesquisa realizada pelo Cenpec entre 2011 e 2013 com um grupo de mães da extrema periferia de São Paulo indicou que a omissão ou indiferença dos pais das camadas populares em relação à escola é um mito. "As mães depositam na escola grandes expectativas, esperam que seus filhos tenham acesso a uma escolarização longa e ultrapassem a escolaridade limitada que tiveram. Por isso é necessário conhecer as famílias dos alunos, reconhecer seus esforços, acolhê-las, e informar seus direitos e deveres”, comentou Maria Alice.
Uma iniciativa que vem dando certo na rede pública de alguns municípios e estados brasileiros é a figura do Coordenador de Pais nas escolas. A capixaba Maria da Penha Rodrigues Nunes atua desde 2013 nesta função na escola estadual Antonio Engrácio da Silva, localizada em Serra (ES). Ela foi uma das selecionadas para assumir o cargo e conta que passa por um processo de formação contínua que a estimula a planejar ações para aproximação das famílias dos alunos à escola, especialmente daqueles em situação de maior vulnerabilidade. "Com a equipe pedagógica da escola, pensamos em uma série de estratégias para aproximar a família do cotidiano escolar dos seus filhos”, explicou Maria da Penha.
O papel do Coordenador de Pais é provocar, intencionalmente, a aproximação das famílias com as escolas, do cotidiano escolar dos alunos e do seu processo de aprendizagem. Ele deve ser um elemento agregador, que apoie e seja sustentado pela equipe pedagógica e gestora, transformando a escola num espaço mais acolhedor para a comunidade. "O diálogo tem que ser simples”, explica Penha sobre a abordagem com os pais, que deve respeitar o repertório de vida das pessoas e a realidade do território em que vivem. Na maior parte dos casos, o Coordenador de Pais é alguém da própria comunidade, que teve ou tem filhos na escola. Isso contribui para a aproximação que se busca, além de permitir um diálogo mais fluido. "É muito gratificante ver que os pais colocam em prática ações simples, como perguntar o que o filho aprendeu na escola durante o dia”, conta.
Em 2012, a rede estadual do Espírito Santo implantou o programa de Coordenadores de Pais em 15 escolas localizadas na Grande Vitória, por meio da parceria com a Fundação Itaú Social, responsável em disseminar a metodologia que busca contribuir de maneira ágil para a solução de problemas como o absenteísmo, a evasão escolar e, consequentemente, o baixo rendimento dos alunos em sala de aula. Os resultados motivaram a expansão da iniciativa para mais 17 escolas.
O Coordenador de Pais orienta as famílias com diferentes estratégias para acompanhamento do cotidiano escolar dos alunos. Maria da Penha cita algumas delas:
• Dedicar um tempo para acompanhar as atividades escolares dos filhos;
• Estabelecer com os filhos, de maneira negociada, rotinas de horários para estudos, brincadeiras e outras atividades;
• Conversar com os filhos sobre facilidades e dificuldades enfrentadas por eles na escola e sobre outras questões do dia a dia;
• Reservar na rotina momentos de lazer com os filhos e buscar reconhecer suas qualidades;
• Dialogar sobre direitos e a importância de respeitar limites para não invadir o espaço de direito do outro;
• Buscar participar das atividades desenvolvidas na escola, principalmente das reuniões periódicas;
• Procurar a escola sempre que sentir necessidade de quaisquer esclarecimentos.
http://www.fundacaoitausocial.org.br/acontece/newsletter /edicao-n-51-janeiro-2014-nota-3.html

Fonte: Fundação Itaú Social

(Editor: Otávio Araújo)

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

NOVO ANALFABETO BRASILEIRO TEM ENTRE 30 E 40 ANOS E ESTÁ NO MERCADO DE TRABALHO

Nascido em Garanhuns (PE), Damião da Conceição, 28 anos, nunca havia pisado numa Escola até 5 de fevereiro, quando participou do primeiro dia de aula do curso de Alfabetização do Cieja (Escola Municipal de Ensino Supletivo Gratuito), em Ermelino Matarazzo, São Paulo.

Ele é um dos milhares de brasileiros que estão entrando na Escola depois de adultos. Apesar dos avanços atestados por indicadores educacionais e programas de Alfabetização, especialistas como a diretora da ONG Todos Pela Educação, Priscila Cruz, explicam que o País ainda tem muito o que melhorar para fechar a "torneira do Analfabetismo" e impedir que, no futuro, outros jovens passem pelas mesmas dificuldades que Damião enfrentará para aprender a ler.

Dados publicados na pesquisa "Educação e desigualdades na cidade de São Paulo” da ONG Ação Educativa, atestaram que a capital paulista possui cerca de 280 mil jovens e adultos Analfabetos.

Diferentemente do estereótipo corrente, que geralmente relaciona o Analfabetismo como um problema que afeta pessoas com mais de 60 anos que vivem no interior, esses moradores da capital fazem parte da população economicamente ativa.
Roberto Catelli Júnior, pesquisador da Ação Educativa, conta que um em cada quatro brasileiros não ”funciona” plenamente na sociedade contemporânea, que exige o domínio da leitura e da escrita.
— É possível dizer que existe um novo perfil de Analfabetos no País, composto por pessoas com idade entre 30 e 40 anos, que não tiveram acesso às políticas de inclusão Escolar. Quando não são totalmente iletrados, eles leem e escrevem muito pouco e podem ser considerados Analfabetos funcionais, reforça.
Priscila, da Todos Pela Educação, concorda com Catelli. Ela também afirma que as políticas de Escolarização promovidas no Brasil até hoje não foram capazes de fechar a "torneira do Analfabetismo” e podem produzir uma nova geração de Analfabetos.

Para reforçar sua tese, a especialista cita como exemplo o resultado de uma pesquisa feita a ONG em 2012 com crianças de oito anos de todo o País.
— Fizemos uma pesquisa com alcance nacional, cujos resultados mostraram que apenas metade das crianças com oito anos de idade matriculadas na Escola foram plenamente alfabetizadas. Ou seja, estamos investindo para manter esses Alunos estudando regularmente, mas eles não estão aprendendo o conteúdo adequado para sua série. Podemos estar formando uma nova geração de Analfabetos, frisou.

Metas da Unesco
O último relatório com indicadores educacionais, divulgado pela Unesco no dia 29 de janeiro, destacou que o Brasil é a oitava nação com maior número de Analfabetos adultos entre 160 países pesquisados. O País ficou atrás apenas da Índia, China, Paquistão, Bangladesch, Nigéria, Etiópia e Egito.

Segundo a Unesco, 14 milhões de pessoas declararam que não sabem ler nem escrever. Na proporção da população de Analfabeto da América Latina, que soma 36 milhões de pessoas, os brasileiros chegam a 38,5%. Se mantiver o ritmo de Escolarização atual, o Brasil não deve conseguir atingir a meta traçada pela organização até 2015.

Ana Lúcia Lima, diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro, comenta que os dados da Unesco são preocupantes, mas é preciso ter um olhar equilibrado para analisá-los.
— As políticas públicas de inclusão Escolar só se tornaram prioridades a partir da década de 1990. Se compararmos com nossos vizinhos da América Latina, a expansão da oferta de vagas começou dez anos depois. Os Analfabetos adultos de hoje, que aparecem em pesquisas como a da Unesco, nasceram em gerações anteriores a essas políticas de inclusão massiva das crianças nas Escolas, disse.

Novas gerações
O crescimento do Analfabetismo também foi atestado na última Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios). Com informações coletadas há dois anos, a pesquisa mostrou que a população com 15 anos que não sabe ler nem escrever passou de 8,6% para 8,7% entre 2011 e 2012.

Priscila, da Todos Pela Educação, comenta que os dados indicam que continuaremos produzindo Analfabetos. Ela conclui lembrando que a pesquisa da Unesco usa dados dos brasileiros que se declararam Analfabetos, ou seja, o número pode ser ainda maior.
— Ler o nome do ônibus e escrever um bilhete não significa que o cidadão é alfabetizado. Precisamos impedir que as crianças saiam da Escola com problemas graves de aprendizado. Os programas de Alfabetização para adultos precisam acabar, essa é sua missão. Eles precisam se tornar desnecessários, concluiu a especialista.

Fonte: Portal R7.

(Editor: Otávio Araújo)

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Aluno de 16 anos entra em nove cursos de medicina

Ainda no 1º ano do ensino médio, Matheus Bruxelas foi aprovado pela primeira vez no vestibular: para veterinária na UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) e engenharia florestal na UFMS (Federal de Mato Grosso do Sul) e na UFMT (Universidade Federal do Triângulo Mineiro). No 2º ano, mais aprovações: foi admitido em odontologia na USP e educação física na Unesp. Mas foi neste ano que ele atingiu uma marca surpreendente: aos 16 anos, foi aprovado em nove vestibulares de medicina.

Décimo nono colocado na medicina de Ribeirão Preto da USP e aprovado ainda nas Federais do Triângulo Mineiro, do Paraná, de Viçosa, Unesp e em mais quatro universidades privadas, Matheus é descrito pelos professores como um menino que sabe equilibrar a diversão e os estudos. "Ele não é daqueles nerds que só pensam em estudar", garante Roselane Alarcon, diretora do Objetivo Alto Padrão, escola de Franca, interior de São Paulo, onde Matheus estudou.

"Gosto de jogar basquete e tocar piano, mas tive de parar uns seis meses para me preparar para o vestibular", conta ele, que chegou a estudar 12 horas por dia na reta final. "Mesmo assim, não deixava de me divertir nos fins de semana." Para ele, a dedicação é o principal pré-requisito para quem pretende entrar em cursos concorridos. "Se você não tiver dedicação, é melhor nem tentar", diz.

Regina Trindade, mãe de Matheus, conta que muitos amigos a aconselharam a mandar o filho para fora. "Preferimos mantê-lo aqui (em Franca), onde ele tem amor e uma boa estrutura", afirma a dentista, que também apostou em uma ajuda extra. "Deixei uma vela acesa desde o primeiro dia de vestibular até sair o resultado." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. (http://www.uol.com.br)

Editor: Otávio Araújo